06 novembro 2010

Reflexão – liturgia 32° domingo Tempo Comum

Felizes os que se despojam diante dos ensinamentos de Cristo e são capazes de entregar a Ele o viver
Neste fim de semana, a Igreja celebra todos os santos, nossos intercessores fiéis junto a Deus. A solenidade é programada para acontecer na véspera do dia de finados, porém, por se tratar de uma solenidade e pelo fato do dia 1° de novembro ter caído em uma segunda-feira, a festa foi postergada para o domingo subseqüente. Por falar nos santos, podemos iniciar a reflexão refletindo sobre o que nos leva a sermos santos nos dias de hoje, em que se vive de maneira frenética em uma sociedade hiperestimulante, que acaba por deixar o sagrado em segundo plano.
Irmãos, a santidade é o convite que Deus nos faz no momento de nosso batismo, momento no qual somos lavados de nossa mancha inicial, herança deixada por Adão e por Eva (cf Gn 3). Na pia batismal, temos a fronte traçada pelo símbolo maior de nossa fé: o sinal da cruz que nos remete ao Deus trindade que se faz três para ser um só em nossos corações. Procuro calcar a santidade sobre três pilares: o decálogo (cf Ex 20, 1-17), mandamentos deixados por Deus ao seu povo; as bem aventuranças (cf Mt 5, 1-12 a), recomendadas por Jesus ao seu povo e o testamento deixado pelo Filho do Homem durante a ceia derradeira (cf Jo 13, 34-35), lição de vida para todos.
Caríssimos, é sobre esses pilares que será edificada a felicidade. Não a felicidade ilusória que nos dá a sensação de estarmos extremamente felizes. Não podemos confundir a alegria com a felicidade. Esta é a plenitude da sensação de bem-estar, que não passa diante de alguma problemática. Pode ser atenuada, mas jamais será cessada. Enquanto, que aquela é momentânea. Sentimos alegria quando compramos um carro novo ou quando recebemos uma bonificação financeira no trabalho, porém, esse sentimento finda quando o carro sai de moda e quando o dinheiro termina. Só poderá afirmar, verdadeiramente, que é feliz, aquele que está bem com Deus, com o irmão e consigo. E, justamente, para estar bem com Deus é preciso erguer os pilares citados acima.
O evangelho deste fim de semana se atenta ao segundo pilar, ou seja, as bem-aventuranças. A partir de uma leitura atenta, perceberemos que somente seremos felizes se formos pobres em espírito. Aqui, Jesus não nos fala de uma pobreza material. Sua preocupação é alertar para a necessidade de não mais sermos escravos da riqueza, pois a maior riqueza existente é a adoção de uma vida justa, centrada na humildade, na solidariedade e no total despojamento. Como é bom podermos chegar diante do sacrário e se calar para ouvir o que o Senhor tem a nos dizer. Naquele momento estamos despojados de nossas vaidades, de nossos egoísmos e de nossos preconceitos. É naquele prostar-se diante do Salvador que nos tornamos verdadeiramente criatura, que se deixa ser guiada pelo Senhor da vida. Somente Ele tem as palavras para nos confortar, para nos incentivar, para nos dar coragem de seguir caminhando, ainda que estejamos sendo recriminados pela sociedade técnico-científica do século XXI (cf Mt 5, 11), que custa a aceitar a decisão de nossos jovens a seguir uma vida religiosa, porque estão na contramão da história, pensamento pertencente à nossa sociedade capitalista. Porém, garanto que vale a pena estar na contramão da história para não estar na contramão de Cristo, pois Ele é caminho de mão dupla. Aliás, o próprio Jesus nos garante que vale a pena segui-Lo a fim de perseverar na busca pela santidade: Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. (cf Mt 5, 12 a)
A cada dia que abrimos as páginas de nossos jornais, somos convidados a refletir sobre como difundir cada vez mais os ensinamentos de Cristo no mundo atual, uma vez que os princípios cristãos estão sendo cada vez mais solapados por atos de atrocidades sociais, políticas e ambientais. Infelizmente, o mundo fechou os ouvidos para o anjo, citado por São João no livro do Apocalipse, que gritava com voz retumbante aos quatro anjos que faziam mal à terra, ao mar e às árvores (cf Ap 7, 3). Eis aqui mais um ponto de atenção: como respeitaremos a humanidade se não somos capazes de cuidar da natureza, que nos dá o ar que respiramos e os frutos que nos alimenta? Precisamos ser promotores da paz, em todos os sentidos. É preciso dizer não à violência social, responsável pela dizimação de muitas famílias, e à violência ambiental, pois a Mãe Terra é fonte de vida e sustento.
Agindo dessa maneira estaremos caminhando para santidade e, ainda na terra, seremos reconhecidos como filhos de Deus (cf, I Jo 3,1). O céu é conseqüência de nossas escolhas na terra: só atingirá a Jerusalém celeste àqueles que não esmoreceram na fé durante a caminhada, ainda que ela tenha sido permeada de tribulações (cf Ap 7, 14 a). Assim, como nos diz São João, esses terão suas vestes alvejadas pelo sangue do Cordeiro (cf Ap 7, 14 b), o sangue derramado na cruz por amor a cada um de nós. E chegando ao Céu, estaremos de pé diante de Deus, com as palmas da vitória na mão (cf Ap7, 9 b), por termos perseverado na justiça e no amor e, finalmente, seremos purificados, como é o próprio Cristo Jesus (cf I Jo 3,3). Por fim, seremos dignos de ter Cristo entregue a própria vida no madeiro em favor da devolução de nossa dignidade.

Obrigado Senhor!
por michaell Grillo

Leituras: Ap 7, 2-4.9-14; Sl 23 (24); I Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12 a

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